Leia sobre Cultura Cigana e Flamenco

Influência da Música Árabe na Espanha e Europa – Por Jamal Ibrahim Elias


Continuação da coletânea – Invasões e Conquistas da Música Árabe. 

(Este texto foi publicado originalmente em: Revista O Jardim Árabe, Ano III, Número II Março/Abril 1997. Agradeço à gentileza do autor, Jamal Ibrahim Elias, por ter autorizado a reprodução integral do artigo em nosso site). Esta coletânea contém os seguintes capítulos: 1)Introdução, 2)Influência da música árabe na Espanha e na Europa, 3)Componentes e estruturas da música árabe, 4)O Califa de Hollywood, 5)Os instrumentos musicais árabes, 6)Origem da Música Árabe, 7)Música Contemporânea e o seu Futuro e 8)Música Popular Árabe. Todos foram publicados na referida edição da revista O Jardim Árabe.Para não sobrecarregar os leitores deste site que obviamente não possui os mesmos recursos visuais de uma revista impressa, decidi separar os textos e publicá-los por partes.

Influência da Música Árabe na Espanha e Europa

Por Jamal Ibrahim Elias

“Ziryab, discípulo do Ishaq-al-Mawsili (músico da corte do Califa Harun el-Rachid ), foi obrigado pelo próprio mestre a abandonar Bagdá com medo de tomar- lhe o cargo. Esse superou em fama o seu instrutor e viajou para Espanha em 821 D.C., onde o príncipe Abdal-Rahrnan II fez questão de convidá-lo para ser o musico da corte…”

Em julho de  710 D.C., uma força do exército Islâmico, vinda do norte da África, invadiu a Espanha, dando origem à Civilização Moura, que perdurou por oito séculos (710 -1492 D.C).  Importar a cultura oriental era um fator necessário para enraizar a presença árabe na Espanha. Foi o que fez um dos primeiros príncipes invasores, Abd-EI-Rahman 1, ao assumir a Espanha no ano 755 D.C. A invenção do ‘Muachah” (temas longos de melodia com versos) impulsionou uma formidável fusão entre as duas literaturas onde poesia e música cumpriram o romântico papel de atrair as duas raças a se mesclarem. Enquanto isso, no Oriente, Bagdá passou a ser a nova capital. A música árabe atingia lá o seu auge, o seu ciclo de ouro. Muitos músicos executavam suas peças nas cortes e palácios dos califas e quase todas as pessoas importantes tinham uma cantora permanente em suas casas. O estudo de música era obrigatório aos homens eruditos e o músico era conceituado como alguém de ampla cultura. Ziryab, discípulo do Ishaq-al-Mawsili (músico da corte do Califa Harun el-Rachid ), foi obrigado pelo próprio mestre a abandonar Bagdá com medo de tomar- lhe o cargo. Esse superou em fama o seu instrutor e viajou para Espanha em 821 D.C., onde o príncipe Abdal-Rahrnan II fez questão de convidá-lo para ser o musico da corte. Ninguém antes dele recebeu tão generosa recepção e fartos salários. Foi Ziryab quem adicionou a 5ª corda ao alaúde e introduziu novos métodos a educação musical. Fundou, em Córdoba, a primeira escola musical; criou o canto em grupo orquestrado e criou o grande Instituto de Musica Andaluz e varias escolas em diversas cidades, tais como Granada, Servilha e tantas outras. Do alaúde, Ziryab se inspirou para inventar a guitarra espanhola (Kisarah), ou violão de seis cordas e fez surgir da musica  um novo estilo mais refinado que seria a música clássica árabe – ocidental (música espanhola).  Seus oito filhos e duas filhas seguiram seus passos e todos tornaram-se famosos. Ziryab morreu em 852 D.C. deixando mais de 10.000 composições e vários institutos fundados que impulsionaram a música árabe, fazendo com que um novo ciclo de música moderna invadisse a Espanha, Portugal, Itália, Alemanha, França e grande parte da Europa. A presença do alaúde na música medieval e a expansão da orquestra são provas que a história confirma. Arthur P. Moore, certa vez, disse: “Nenhuma outra música conseguiu influenciar a Europa como a árabe”. A Europa deve muito à musica árabe e, em especial, a Ziryab. Considerado como o fundador de música espanhola, ele trabalhou arduamente para fixar os princípios de musica árabe na mente européia. Instrumentos de influencia na música européia antiga e atual, tais como a guitarra portuguesa, a Rabeca, o Bandolim e tantos outros, têm sua origem árabe no mais completo instrumento de cordas – o violão. Muitos, porém, acreditam que o piano foi inspirado por uma das invenções de Ziryab! O renomado professor da universidade de Berlim, Dr. Kurt Zakhs, afirma que a maior parte dos instrumentos europeus é de origem oriental e que penetrou na Europa por várias formas. Certamente a supremacia de uma cultura sobre outra está no poder de ela resistir ao tempo. Outrossim, para que uma cultura seja aceita por uma outra, é preciso que ela tenha um solo fértil. Hoje, mesmo apos 12 séculos de entrada da música árabe no solo ocidental, ao compararmos a música espanhola, portuguesa e brasileira à árabe, podemos constatar fortes e nítidas semelhanças – o “Flamenco”, o “Fado” e o “Chorinho” são traços atuais e heranças marcantes que perderam a noção do tempo e se perderam num solo extremamente fértil. É a prova de que a música é ainda um dos pilares mais sólidos de qualquer cultura.

Fonte:  http://arabesc.multiply.com/journal/item/118/118?&show_interstitial=1&u=%2Fjournal%2Fitem

Deixe um comentário